segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Nós somos tal como Tsukuru

O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação

Além da obra de Muriel Barbery, me presenteei ao ler "O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação" de Haruki Murakami. A edição que li foi pelo selo Alfaguara de 2014, pela tradução de Eunice Suenaga. O livro teve mais de 1 milhão de exemplares vendidos no Japão na semana que foi lançado, e atingiu o primeiro lugar da lista dos mais vendidos ao redor do mundo.

Esse foi um daqueles livros difíceis de ler, e não por causa de uma linguagem ultra rebuscada, ou por um grande número de páginas. Foi difícil porque falava de mim

Meu namorado foi quem iniciou a leitura primeiro e deu uma breve resumida na sinopse do livro. Disse que seria interessante para mim. Eu evitei lê-lo até o último segundo.

Todos nós somos tal como Tsukuru: algo desproporcionalmente doloroso nos ocorre, e ficamos sem rumo, à beira do precipício, por dias, meses, anos. Não sabemos lhe dar com aquilo, viramos fantasmas vagando pelos dias, voando pela superfície das coisas. Mas depois tentamos engolir, cobrir, afogar, abafar, aquilo que nos engoliu. E isso dói também, uma dor fina, que faz com que tudo que se aproxime daquele esconderijo seja rapidamente repelido, expulso, afastado, seja consciente ou inconscientemente. Aquela zona de conforto nada confortável, mas que te passa a ilusória sensação de que é melhor uma "dor conhecida" do que uma inesperada e decepcionante "nova dor".

Tsukuru sempre acreditou o quão vítima fora ao passo que recusou por anos analisar de maneira mais racional o ocorrido, perceber que, poxa... como faltou diálogo, uma comunicação efetiva, no mínimo, entre ele e seus antigos amigos de Nagoya! E como faltou maturidade, sinceridade, transparência; o laço de amizade entre eles não conseguiu suportar. Claro que na história de Tsukuru Tazaki e seus amigos coloridos, há problemáticas incrivelmente relevantes para tornar a separação um assunto mais delicado, mas muitas coisas poderiam ter tido outro rumo se aqueles jovens tivessem se escutado mais. Porém lembremos de levar em conta que eles eram muito novos, e mesmo até os mais velhos e experientes ainda (sempre) se deparam com "mas o que é que eu faço agora?".

E também lembremos que para Tsukuru tudo aquilo já fazia parte do seu passado, mas se ainda incomodava, era uma dor válida (pode parecer muito redundante isso mas muitas vezes temos que nos lembrar que toda dor o é).

Então o incolor engenheiro de ferroviárias decide voltar a sua cidade natal e finalmente não ter medo da verdade, das várias facetas, que fazia parte daquele seu episódio traumático que o aprisionava ainda, de alguma forma.

Acredito que todos nós passamos pelo que Haruki Murakami "descreveu" em seu livro, muitas coisas dentro de nós temos até medo de tocar, de mencionar, de lembrar que existiu, mas ainda dói tanto quanto como foi naquele tal dia daquela tal semana que te deram uma dor maior que você mesma/o. Creio que não é necessário você literalmente "voltar à cidade natal" para olhar com os olhos de hoje os traumas passados, e muitas vezes precisamos de muita ajuda, de um/uma psicólogo/a, etc., mas se for realmente necessário você ir à outra cidade, estado, país, que seja. Realmente toda dor é válida, não é digna de vergonha, nem repulsa, ou revolta, e se ainda dói, é aconselhável que busque primeiramente encará-la, depois curá-la, seja lá o tempo que leve.

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