sábado, 27 de fevereiro de 2021

Etnografia e Educação

Encontro dia 24/02

Iniciamos o novo encontro com apresentações sobre o filme Xingu (2011). Duas pessoas de cada grupo das professoras supervisoras comentaram e manifestaram suas impressões sobre determinadas cenas do longa-metragem. Em seguida, prof.ª Andréa reafirmou várias das colocações apontadas, fazendo abertura para a exibição dos slides sobre Etnografia e Educação.

Foi muito rica a reunião da última quarta-feira e destacarei alguns momentos mais marcantes para mim. A "metáfora da cegueira", por exemplo, rondou minha cabeça muitas horas depois do encontro. O ponto de "descrever primeiro, interpretar depois", e usar a "pergunta fundamental", durante o exercício da docência, "o que está acontecendo aqui?", foi de extrema relevância e impacto para mim por ser uma forma de posicionar-se que deveríamos fazer também em outros âmbitos da nossa vida. Outro tópico da reunião que ressalto é a importância de usar o olhar ao passo que deixando de lado nossos pré-conceitos, e a necessidade que temos no trabalho de campo de nos desarmar.

Etnografia Educacional esteve em evidência durante toda a reunião, mas também foi mencionado que existem outros tipos de abordagem. 

Também foi debatido como muitas vezes carregamos imposturas, coisas que não agregam nem promovem amadurecimento, para nossa trajetória. Porém, professora Andréa não esqueceu de elucidar como cometemos estes equívocos às vezes mas que sempre podemos "voltar aos trilhos" depois.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Nós somos tal como Tsukuru

O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação

Além da obra de Muriel Barbery, me presenteei ao ler "O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação" de Haruki Murakami. A edição que li foi pelo selo Alfaguara de 2014, pela tradução de Eunice Suenaga. O livro teve mais de 1 milhão de exemplares vendidos no Japão na semana que foi lançado, e atingiu o primeiro lugar da lista dos mais vendidos ao redor do mundo.

Esse foi um daqueles livros difíceis de ler, e não por causa de uma linguagem ultra rebuscada, ou por um grande número de páginas. Foi difícil porque falava de mim

Meu namorado foi quem iniciou a leitura primeiro e deu uma breve resumida na sinopse do livro. Disse que seria interessante para mim. Eu evitei lê-lo até o último segundo.

Todos nós somos tal como Tsukuru: algo desproporcionalmente doloroso nos ocorre, e ficamos sem rumo, à beira do precipício, por dias, meses, anos. Não sabemos lhe dar com aquilo, viramos fantasmas vagando pelos dias, voando pela superfície das coisas. Mas depois tentamos engolir, cobrir, afogar, abafar, aquilo que nos engoliu. E isso dói também, uma dor fina, que faz com que tudo que se aproxime daquele esconderijo seja rapidamente repelido, expulso, afastado, seja consciente ou inconscientemente. Aquela zona de conforto nada confortável, mas que te passa a ilusória sensação de que é melhor uma "dor conhecida" do que uma inesperada e decepcionante "nova dor".

Tsukuru sempre acreditou o quão vítima fora ao passo que recusou por anos analisar de maneira mais racional o ocorrido, perceber que, poxa... como faltou diálogo, uma comunicação efetiva, no mínimo, entre ele e seus antigos amigos de Nagoya! E como faltou maturidade, sinceridade, transparência; o laço de amizade entre eles não conseguiu suportar. Claro que na história de Tsukuru Tazaki e seus amigos coloridos, há problemáticas incrivelmente relevantes para tornar a separação um assunto mais delicado, mas muitas coisas poderiam ter tido outro rumo se aqueles jovens tivessem se escutado mais. Porém lembremos de levar em conta que eles eram muito novos, e mesmo até os mais velhos e experientes ainda (sempre) se deparam com "mas o que é que eu faço agora?".

E também lembremos que para Tsukuru tudo aquilo já fazia parte do seu passado, mas se ainda incomodava, era uma dor válida (pode parecer muito redundante isso mas muitas vezes temos que nos lembrar que toda dor o é).

Então o incolor engenheiro de ferroviárias decide voltar a sua cidade natal e finalmente não ter medo da verdade, das várias facetas, que fazia parte daquele seu episódio traumático que o aprisionava ainda, de alguma forma.

Acredito que todos nós passamos pelo que Haruki Murakami "descreveu" em seu livro, muitas coisas dentro de nós temos até medo de tocar, de mencionar, de lembrar que existiu, mas ainda dói tanto quanto como foi naquele tal dia daquela tal semana que te deram uma dor maior que você mesma/o. Creio que não é necessário você literalmente "voltar à cidade natal" para olhar com os olhos de hoje os traumas passados, e muitas vezes precisamos de muita ajuda, de um/uma psicólogo/a, etc., mas se for realmente necessário você ir à outra cidade, estado, país, que seja. Realmente toda dor é válida, não é digna de vergonha, nem repulsa, ou revolta, e se ainda dói, é aconselhável que busque primeiramente encará-la, depois curá-la, seja lá o tempo que leve.

"A Elegância do Ouriço" como longa-metragem

The Hedgehog / Le Hérisson (2009)

O best-seller de 2006 de Muriel Barbery ganhou uma adaptação para o cinema em 2009, com direção pela cineasta e roteirista franco-marroquina Mona Achache.

Nomeado como "O Porco Espinho" aqui no Brasil, o longa-metragem é estrelado por Josiane Balasko, atriz e roteirista francesa aclamada e premiada que possui mais de 40 anos de carreira. Particularmente, acredito que Renée Michel foi muito bem "personificada".

The Hedgehog, direção de Mona Achache (2009).

Como espectadora, senti que o roteiro e direção do filme tentaram ser o mais fiéis possíveis à obra de Muriel ao mesmo tempo que Mona Achache buscava manter ali impressa a sua identidade como cineasta. 

Alguns diálogos são praticamente "idênticos" ao livro ao passo que novos elementos também foram acrescentados ao longa-metragem e acredito que para promover aquele envolvimento que os leitores conseguem obter com o romance. Por exemplo, no lugar dos diários de "movimento do mundo" e "pensamentos profundos", Paloma se expressa por uma câmera, com o intuito de uma captura audiovisual tanto de seus devaneios mais pessoais possíveis quanto do movimento dos seus familiares pelo apartamento. Também vale ressaltar como seu gosto e habilidade com desenho/arte pictórica é muito explorado enquanto no romance é apenas levemente citado. Ah sim... Acrescento que não pode passar batido a presença do peixinho dourado, recurso completamente novo e metafórico usado no filme.

A avaliação da crítica para o longa é relativamente boa. E gostei bastante do filme, principalmente por causa daquela sensaçãozinha de ler um livro e depois ler a adaptação e encontrar as personagens fora da "nossa cabeça", e apontar as semelhanças e diferenças entre as duas narrativas da mesma história. Porém, o livro me envolveu muito mais, me contemplou muito mais.

Obs.: Eu apenas descobri que o livro se referia a elegância do "ouriço porco espinho" quando me deparei com a tradução do título do filme, e pelas gravuras que Paloma desenha no longa. Realmente achava que o tempo todo fazia-se uma referência ao ouriço do mar, até porque acho eles bem mais elegantes que porcos espinhos (que são apenas fofos).

domingo, 14 de fevereiro de 2021

"A Elegância do Ouriço", resenha literária

Entre Renée Michel e Paloma Josse

A segunda resenha literária que postei no meu canal do Youtube se trata de "A Elegância do Ouriço", de Muriel Barbery, publicado em 2006. A edição que li é da Editora Companhia das Letras de 2008.

Podemos considerar que o livro tem duas personagens principais: Renée Michel e Paloma Josse. O livro me envolveu completamente, arrancando-me lágrimas no final. Destaco os seguintes trechos mais marcantes para mim (dentre tantos):

“É tocar o fundo do pântano social ouvir, pelo tom de sua voz, que um rico só se dirige a si mesmo e que, embora as palavras que pronuncia sejam tecnicamente dirigidas a você, ele nem sequer imagina que você seja capaz de compreendê-los.”

“(...) os adolescentes acham que se tornam adultos macaqueando os adultos que continuam a ser crianças e que fogem diante da vida.”

Bem, falo mais minuciosamente sobre o livro na vídeo-resenha:


Todas as pessoas deveriam ler esse livro alguma vez na vida.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Além do filme

Mais sobre Xingu

Algumas frases no filme particularmente me chamaram atenção como: “O que o governo chama de terra desocupada, na verdade tem dono.” e, quando caminhando para o fim do filme, Orlando Villas-Bôas declara que tem suas dúvidas se o progresso é bom para os homens brancos e conclui que para os indígenas "não é bom, nem necessário".

Pesquisei um pouco sobre as notícias sobre a região do Xingu no ano que o filme foi lançado (2011), e encontrei artigos que acredito que valem a pena serem citados. Por exemplo, no mesmo ano de lançamento do longa-metragem, a ONG Aliança da Terra fazia diagnóstico das pastagens e lavouras, e consequentemente do desmatamento das nascentes e beiras de rio na bacia hidrográfica do Rio Xingu, que chegava a 300 mil hectares.

Uma das fazendas mapeadas pelos técnicos da ONG foi a Fazenda Roncador (citada no filme Xingu), que possuía 151 mil hectares, um território igual ao da cidade de São Paulo. Metade da área do lugar foi desmatada para a formação de pastagens, onde foram criadas 90 mil cabeças de gado. Ela é a maior fazenda de pecuária de Mato Grosso e uma das maiores do Brasil.

Com a Aliança da Terra, a fazenda em 2011 pretendia comprar mudas e sementes de espécies nativas da região para reflorestar quatro mil hectares de nascentes e matas ciliares.

Também vale ressaltar que em 2011 ocorria protestos contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte e lideranças indígenas afirmavam que a usina afetaria o leito do Rio Xingu, no Pará.

Outra matéria interessante a ser mencionada foi realizada pela Folha de São Paulo (também em 2011) sobre como o legado dos irmãos Villas-Bôas não era avaliado com unanimidade pelos indígenas da região pois muitos teriam sido transferidos contra sua própria vontade das suas terras de origem — fato este expresso no longa-metragem.


Xingu (2011), diretor Cao Hamburger.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Xingu (2011)

Atividade: O Encontro com o "Outro"

Dupla: Dafhine Alves e Lucas Omena


Contexto do filme: Em 2011, o Parque Nacional do Xingu completava 50 anos de existência (1961). O filme é lançado também em meio a protestos contra a obra da hidrelétrica de Belo Monte no leito do rio Xingu, que provocaria impactos socioambientais.
 
Contexto de Enredo: No Estado Novo, Getúlio pensava políticas indigenistas ao mesmo tempo que elaborava a industrialização do Brasil, tendo como dois lemas predominantes de seu governo o patriotismo e o trabalho. Pois, conforme ARAÚJO, "o governo autoritário promoveu a valorização do trabalho como instrumento de nacionalidade" (2000 apud SARAIVA, 2013). Em paralelo, Getúlio buscava sondar áreas inexploradas do Brasil para torná-las produtivas. Por isso, a Marcha para o Oeste.

Sinopse: Três irmãos, em busca de aventura, se passam por peões, e se inserem na Marcha para o Oeste. Cláudio, Orlando e Leonardo, os Villas-Bôas, não imaginavam que, ao contrário do que era falado, a região já era habitada, e o contato com os indígenas mudariam seu destino para sempre.

Desenvolvimento: Os irmãos Villas-Bôas usam de não violência para ter contato com as terras inexploradas. Após o governo deixar claro suas pretensões de "civilização" dos grupos indígenas e desrespeito a suas terras, e dos irmãos terem conhecimento sobre o futuro para os grupos indígenas, usando-os como mão de obra explorável para extração de borracha, por exemplo, os Villas-Bôas tomam como princípio a proteção dos índios da região e propõem a criação do Parque Nacional do Xingu para obtenção de fronteiras demarcadas.


Filme: Xingu

Ano: 2011

Diretor: Cao Hamburger

Cenas (marcação tempo): 

0h9min05s

 

 

 

 

 

 









0h12min15s

 

 

 

 

 




0h12min58s¹

 

 

 

 

 


0h13min55s²

 

 

 

 

 

 



0h18min30s³

 

 

 

 

 

 


0h21min00s4

 

 

 

 

 

 



 0h22min06s5

 

 

 

 

 

 



0h22min25s6

 

 

 

 

 




0h23min45s7

 

 

 

 





0h24min40s8

 

 

 

 

 

 



0h25min15s9

 

 

 

 

 

 




0h27min47s10

 

 

 

 

 

 



0h30min10s

 

 

 

 

 

 

 

 







0h33min21s11

 

 

 

 



 



0h37min35s12

 

 

 

 

 





1h09min38s13

 

 

 

 





1h09min50s14

 

 

 

 

 




1h14min15s15

 

 

 

 

 




1h24min00s17


Roteiro (parte verbal):

 

 

 

 

 

 

 









Cláudio em voz off: “O que o governo chama de terra desocupada, na verdade tem dono”.

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



















Cláudio em voz off: “para mim não eram povos selvagens, era uma outra civilização, o encontro mudou as nossas vidas”

 

 

 




 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


















Diálogo entre Orlando e Major

Imagem:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




















 

 

 




 

 





 




 







 

 





 






 



 


 







 

 

 


 

 

 

 

 

 













 


 




 







 






 





Parte sonora:

Os peões escutam um som, ficam apreensivos, acham a princípio que é onça, mas um deles reconhece ser de índio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
































Entoação de canto indígena

 

 

 

 

 

 

 

 









Chocalho pesaroso acompanha ritual mais silencioso, com alguns “clamores”.



¹ Os peões avistam armadilha de pesca feita pelos índios

² Os peões avistam os índios pela primeira vez em cima duma canoa

3 O cacique pega na faca disposta na areia por Cláudio

4 Cláudio e Orlando se maravilham com a comunidade indígena, avistando as ocas e os restantes

5 Os nativos olham para os irmãos com curiosidade, os rondam, atraídos para ver mais de perto, tocá-los, como na barba.

6 Os índios estão espantosos e com certo medo dos óculos de Cláudio, que o entrega aos curiosos, que examinam.

7  Orlando tenta explicar o que seja avião fazendo mímica e simulando som de turbina. Os índios mostram que conhecem algo parecido e dão o nome, mas parecem se referir a um pássaro.

8 Cláudio aprende e anota palavras na língua da tribo com um indígena.

9 Leandro se admira com a construção de uma oca, e a sobe imitando a operação do índio próximo.

10 Avião do governo pousa na aldeia indígena, os índios se assustam, correm, mas depois se aproximam. Cláudio parece olhar com o interesse o contraste da cena. Os índios, ‘incivilizados’, ‘selvagens’, mas inofensivos e o avião, da civilização, símbolo de progresso, mas tão agressivo àquele ambiente.

11 A aldeia gripa devido ao contato com os brancos, o cacique está entre um dos adoecidos. Um índio (que parece curandeiro) bafora fumaça no peito do cacique.

12 Cláudio com ajuda de um índio da aldeia, tem contato com nativos de outras aldeias próximas com o intuito de expandir os atendimentos médicos.

13 Índios comemoram junto com os irmãos Villas-Bôas a conquista do Parque Nacional do Xingu, que os isolaria e garantiria suas terras.

14 Os índios pintam o corpo de Cláudio para o ritual comemorativo.

15 Índios fazem ritual fúnebre em homenagem a Leonardo Villas-Bôas.

16 Orlando conversa com Major sobre a transamazônica, projeto militar que atravessa a região norte com estradas. Ao apresentar onde a transamazônica irá percorrer no mapa, Orlando percebe que a aldeia dos Creem será atravessada pelo projeto e pede para ser possível mudar a rota. Major não aceita que haja alteração.

Orlando: Major, será que não dá para deixar eles mais um tempo lá na condição de isolamento?

Major: não, não dá. E depois achamos que isolamento não seja bom pra ninguém. Progresso sim é bom, até pra índio!

Orlando: Não, não é! Desculpa discordar, mas não é! Até para nós eu tenho dúvida! Mas pra eles progresso não é bom, nem necessário!